domingo, 3 de maio de 2009

A PRIMEIRA CRÍTICA A GENTE NUNCA ESQUECE


A COR-DE-COLORIDO COMO SÍNTESE DE CIDADANIA

Antônio Hohlfeldt

O diretor Roberto Oliveira já assinou muitos espetáculos infantis, sempre evidenciando criatividade e modernidade, elementos fundamentais para prender a atenção da criança contemporânea. Agora, ele responde por O que seria do vermelho se não fosse o azul, peça de sua própria autoria, que ele também dirige. Na verdade, trata-se de dois textos: o primeiro é uma espécie de roteiro em que atores discutem sobre seu trabalho e procuram fazer uma equipe. A plateia acompanha, com curiosidade, o que acontece em cena. São cenas fragmentárias, que não levam à constituição de um enredo, propriamente dito, porque desenvolvem apenas uma situação. Num segundo momento, os atores chegam a um consenso e resolvem encenar uma história. O espetáculo engata e a gente aumenta a atenção sobre a cena.
Teatro infantil, hoje em dia, é coisa difícil. Não basta ter um bom enredo, há que ter capacidade de inovar, sugerir coisas novas à criança, mostrar-lhes situações inusitadas. Nesta perspectiva, o espetáculo anda bem, mas naquela primeira parte, como disse, carece de maior unidade. No segundo momento, sem abrir mão de nada, explorando inclusive poucos objetos e adereços e um espaço cênico vazio, o trabalho mostra uma unidade muito maior e, por isso, é mais inteligível.
Para que isso ocorra positivamente, foi importante a cenarização de Modesto Fortuna e Rudinei Morales (especialmente aquele pano todo colorido), assim como os figurinos - brilhantes - de Ana Fuchs e Ig Borghese, que se inspiram no próprio título do trabalho e assim misturam, eficientemente, o azul com o vermelho (mais o branco e o preto), com excelentes efeitos. Os bonecos de Guilherme Luchsinger, grandes e coloridos, cumprem à risca sua função, num certo momento do trabalho, assim como as composições musicais de Roberto Chedid (músicas) e Roberto Oliveira (letras), com direção musical de Roberto Chedid, são comunicativas e fáceis de se guardar na memória.
O jovem elenco é muito equilibrado e cumpre rigidamente a linha de direção. Elisa Heidrich, Fabiano Silveira, Francine Kliemann, Juliano Canal, Lucas Sampaio e Luiza Pezzi compõem um grupo bem afinado e articulado, que garante o ritmo do trabalho e a comunicabilidade geral do espetáculo, que é leve e movimentado, mesmo na sua primeira parte, menos articulada dramaticamente, como registrei. O resultado final, assim, é um trabalho divertido, comprometido com a valorização da criatividade e da imaginação, que apresenta boa comunicabilidade com o público, embora não seja, por certo, dos momentos mais significativos da já agora longa trajetória do diretor Roberto Oliveira. De qualquer modo, o resultado se coloca sempre num patamar acima de boa parte das produções a que assistimos rotineiramente na cidade e, portanto, merece atenção da parte dos pais, quando tenham de escolher onde levar seus filhos. Com uma vantagem: pela sua dupla perspectiva, acaba agradando à gurizada de pequena idade, por seu colorido, e aos mais velhos, pelos temas que aborda.
É importante que, sem apresentar qualquer tonalidade explicitamente pedagógica, o espetáculo discuta alguns temas fundamentais, sobretudo a tolerância com o outro e a aceitação necessária das diferenças étnicas e culturais. Num momento em que tanto se discutem tais questões, é significativo que, indiretamente, as crianças sejam levadas a refletir a respeito do assunto.

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